Como o recurso que transforma sons em palavras virou uma arma do mercado para atrair consumidores | |||||||||||||||||||||||||||||
Luiz Roberto Wagner ![]() O quadro Kapow!: onomatopeia representada no mercado da arte Cerca de metade dos telespectadores brasileiros vê, ouve e lê o "plim-plim" da Globo chamando-a de volta a seu programa de TV. Essa palavrinha dá-nos um som onomatopaico, imita o som de um objeto. Onomatopeia é a figura de linguagem - também chamada "figura de som" - que se forma pela imitação de ruídos, de gritos, de barulho de máquinas, canto de animais, sons da natureza, o timbre da voz humana. Esses recursos são muito explorados em histórias em quadrinhos e até pelo comércio. Nos supermercados, encontramos a batata palha e o biscoito de polvilho da marca "Crac". Provavelmente quem batizou esses dois produtos quis indicar que as batatinhas e os biscoitos são torrados e crocantes, pois fazem o som "crac crac" quando mordidos; as onomatopeias têm sua carga significativa na sonoridade e não no conceito. Nos supermercados, há onomatopeias inglesas estampadas em produtos. Tic Tac, por exemplo, indica um som regular e cadenciado, como o do relógio ou do batimento cardíaco, e passa para o português como "tique-taque" ou "tiquetaque". "Ergue a voz o tique-taque estalado das máquinas de escrever." (Fernando Pessoa)
Kapow! Cada língua convencionou a onomatopeia de uma maneira própria. Nas HQs brasileiras, quando um objeto cai na água, representa-se o ruído por "tchibum!" Já os norte-americanos traduzem o mesmo som como splash!. Porque inspirado em quadrinhos, Roy Lichtenstein (1923-1997) lançou as onomatopeias no rico mercado das artes, como no quadro Kapow!, versão em inglês de uma explosão. Fosse no Brasil, seria algo como "bum!". Em português, a pessoas fazem "xixi"; os espanhóis fazem pis, o que nos leva a considerar a estreita relação do ruído com o líquido em questão. Em nosso idioma, as onomatopeias formam só três classes de palavras: substantivos, verbos e interjeições (ver quadro abaixo). É recurso dos mais comuns na prosa e na poesia, para produzir efeito especial e reforçar a capacidade comunicativa do texto. Tem, na poesia, grande importância estilística, pois nela se concentram melodia, harmonia e ritmo da frase. A poesia reforça os valores sonoros da onomatopeia pela aliteração (repetição de fonemas semelhantes). Daí sua sensível aproximação a essa figura de som, como neste trecho do parnasiano Vicente de Carvalho: Ouves acaso quando entardece Vago murmúrio que vem do mar, Vago murmúrio que mais parece Voz de uma prece Morrendo no ar? Aqui, o conteúdo onomatopaico é criado não só pela repetição de "murmúrio", mas pela aliteração (repetição dos fonemas /v/ e /m/). Onomatopeias provam a dinamicidade do idioma. Quer por meio de figura, quer pela imitação de sons, a língua estará sempre pronta a receber novos termos onomatopaicos. Luiz Roberto Wagner é doutor em Letras e professor da Faculdade Interativa COC - Ribeirão Preto (SP)
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segunda-feira, 9 de maio de 2011
As onomatopeias comerciais
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