segunda-feira, 9 de maio de 2011

As onomatopeias comerciais

Como o recurso que transforma sons em palavras virou uma arma do mercado para atrair consumidores

Luiz Roberto Wagner



O quadro Kapow!: onomatopeia representada no mercado da arte

Cerca de metade dos telespectadores brasileiros vê, ouve e lê o "plim-plim" da Globo chamando-a de volta a seu programa de TV. Essa palavrinha dá-nos um som onomatopaico, imita o som de um objeto.

Onomatopeia é a figura de linguagem - também chamada "figura de som" - que se forma pela imitação de ruídos, de gritos, de barulho de máquinas, canto de animais, sons da natureza, o timbre da voz humana. Esses recursos são muito explorados em histórias em quadrinhos e até pelo comércio.
Nos supermercados, encontramos a batata palha e o biscoito de polvilho da marca "Crac". Provavelmente quem batizou esses dois produtos quis indicar que as batatinhas e os biscoitos são torrados e crocantes, pois fazem o som "crac crac" quando mordidos; as onomatopeias têm sua carga significativa na sonoridade e não no conceito.

Nos supermercados, há onomatopeias inglesas estampadas em produtos. Tic Tac, por exemplo, indica um som regular e cadenciado, como o do relógio ou do batimento cardíaco, e passa para o português como "tique-taque" ou "tiquetaque".
"Ergue a voz o tique-taque estalado das máquinas de escrever." (Fernando Pessoa)
"Plim-plim" da Rede Globo: o som que virou sinônimo de marca
Para muitos estudiosos, as formações onomatopaicas são, em geral, de caráter universal. Há poucas semelhanças, entretanto, nos diferentes idiomas quando se traduzem graficamente essas expressões.
Kapow!
Cada língua convencionou a onomatopeia de uma maneira própria. Nas HQs brasileiras, quando um objeto cai na água, representa-se o ruído por "tchibum!" Já os norte-americanos traduzem o mesmo som como splash!. Porque inspirado em quadrinhos, Roy Lichtenstein (1923-1997) lançou as onomatopeias no rico mercado das artes, como no quadro Kapow!, versão em inglês de uma explosão. Fosse no Brasil, seria algo como "bum!".
Em português, a pessoas fazem "xixi"; os espanhóis fazem pis, o que nos leva a considerar a estreita relação do ruído com o líquido em questão.
Em nosso idioma, as onomatopeias formam só três classes de palavras: substantivos, verbos e interjeições (ver quadro abaixo).
É recurso dos mais comuns na prosa e na poesia, para produzir efeito especial e reforçar a capacidade comunicativa do texto. Tem, na poesia, grande importância estilística, pois nela se concentram melodia, harmonia e ritmo da frase. A poesia reforça os valores sonoros da onomatopeia pela aliteração (repetição de fonemas semelhantes). Daí sua sensível aproximação a essa figura de som, como neste trecho do  parnasiano Vicente de Carvalho:
Ouves acaso quando entardece
Vago murmúrio que vem do mar,
Vago murmúrio que mais parece
Voz de uma prece
Morrendo no ar?

Aqui, o conteúdo onomatopaico é criado não só pela repetição de "murmúrio", mas pela aliteração (repetição dos fonemas /v/ e /m/).
Onomatopeias provam a dinamicidade do idioma. Quer por meio de figura, quer pela imitação de sons, a língua estará sempre pronta a receber novos termos onomatopaicos.
Luiz Roberto Wagner é doutor em Letras e professor da Faculdade Interativa COC - Ribeirão Preto (SP)
As categorias
As onomatopeias assumem três classes de palavras
SubstantivoVerboInterjeição
bem-te-vicacarejarAaai!
fonfomcoaxarAh !
reco-recomiarUfa !
tico-ticomugirBah !
toque-toquepipilarPimba !
zunzumtilintarCatapimba !

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